sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Temos estratégias para a Crise ?


A crise começa a tomar conta da vida dos portugueses e um certo sentimento de impotência e preocupação entra todos os dias nos telejornais que abrem com notícias de fecho de empresas e cortes de postos de trabalho numa escalada de que não há memória. As filas nos Centros de Emprego, os pedidos de apoio junto de instituições de solidariedade são a demonstração inequívoca da gravidade do problema.

As (melhores) perspectivas avançam já que ainda este ano teremos cerca de 10% da população activa em situação de desemprego. O cenário de uma crise prolongada, que afecta de forma transversal toda a sociedade, vai exigir medidas sociais excepcionais de apoio aos desempregados e ás empresas e uma especial atenção às famílias com mais carências.

Mas a crise também pode ser vista como uma situação de oportunidade, e não como uma desgraça. Porque temos pela frente uma boa oportunidade para mudar o rumo dos acontecimentos, enfrentar as nossas fragilidades e acima de tudo fazer as reformas sucessivamente adiadas, muitas vezes por inércia, outras por comprometimento político ou até por falta de coragem. Sabemos todos que muitas vezes só mudamos por força dos acontecimentos e a resistência a mudar de vida é sempre difícil. Mas é útil que se reflita sobre este momento e principalmente sobre o que precisamos de fazer – de mudar.

O país precisa de mudar a estrutura produtiva, a qualificação das pessoas, estabelecer metas, definir rumos, criar uma estratégia e assumir responsabilidades. A falta de estratégia é, regra geral, a verdadeira razão para a crise nas empresas e nas próprias sociedades. Esta não é excepção.

O último relatório do FMI aponta que o esforço financeiro feito pelas economias mais ricas para combater a actual crise vai chegar a 3,6% do PIB. Questiona-se já se estas medidas de aumento da despesa pública terão eficácia, quando a dívida pública cresce a ritmos comparáveis aos tempos da II Guerra Mundial.

O primeiro-ministro britânico Gordon Brown defendeu perante o Congresso norte-americano que o mundo deve "aproveitar a oportunidade" criada pela actual crise financeira e conseguir "que o futuro trabalhe a nosso favor". "Devemos sucumbir a uma corrida para o fundo e ao proteccionismo, que a história nos diz que no final não protege ninguém? Não. Devemos ter confiança para aproveitar a oportunidade à nossa frente e fazer com que o futuro trabalhe a nosso favor".

"Os meus antecessores Winston Churchill, Tony Blair e Margaret Thatcher vieram em tempo de Guerra para falar de Guerra. A minha mensagem é sobre uma economia global em crise e um planeta em perigo", disse Brown.

Gordon Brown sublinhou que em tempos de paz as crises são uma tarefa dos Governos, como representantes das pessoas, como última linha de defesa das pessoas.

Esta mensagem é oportuna para perceber a dimensão da crise mas também para que a política ganhe um padrão ético mais exigente e que seja um referencial claro de credibilidade e geradora de confiança, quando urge transmitir a verdade e mobilizar os cidadãos para as soluções dos problemas sem o facilistismo que temos de não querer ver a realidade e alguma “capacidade genética” de “resolvermos as coisas”, como o demonstra os últimos anos da nossa história.


Manuel Almeida
Março 2009

Publicado in Portal Lisboa.net

A importância da comunicação


- A propósito de ter a coragem de dizer a verdade


Nos últimos tempos tem sido comum assistir-se a comunicações institucionais, políticas ou pessoais em que se diz o que não se pretendia ou, pior, diz-se o que as pessoas não compreendem. Ás vezes, alguém vem dizer que afinal o problema é “apenas” a falta de coragem para dizer a verdade.

Falar de comunicação é quase sempre um acto individual. E isso significa falar não só de qualidades pessoais, de atitude, de comportamentos mas também da capacidade de criar atenção, satisfação, motivação e entusiasmo. Sabendo que a mensagem dirigida deve ter em conta estes pressupostos, mas também o meio económico, social e político envolvente em que a pessoa se insere, ela deve essencialmente dirigir-se aos valores e interesses pessoais.

Daniel Goleman, autor da inteligência emocional, comentava numa entrevista a propósito da comunicação organizacional que a agressividade e a competição feroz dentro das empresas tão em voga nos anos 80/90, foi sendo substituída por uma atitude humanizadora, porque se deram conta que os resultados não dependem somente dos factores mecânicos e de competências.

Há, contudo, inúmeros obstáculos à prática eficaz da comunicação, no contexto das organizações ou no exercício do poder, sendo os mais comuns os que se relacionam com a posição hierárquica – falar mais e ouvir menos – resistência ao contraditório, tendência a confundir o exercício da autoridade e o direito à palavra, como se a livre expressão de outras opiniões constituísse uma ameaça à liberdade.

Também a sobrevalorização da racionalidade económica, dos calendários de gestão, dos (curtos) ciclos políticos e dos objectivos imediatos tendem a constituir um entrave à comunicação, muitas vezes justificada pela optimização dos meios, da urgência e da busca de “eficácia”. Não ficam de fora, naturalmente, as culturas organizacionais ancoradas no autoritarismo e na norma, cuja dificuldade em comunicar é assumida como regra de gestão e de poder.

Esquece-se que a autoconsciência é o elemento essencial da inteligência emocional e o sentimento a mola impulsionadora das nossas decisões, muitas vezes percepcionadas por sinais intuitivos vindos daquilo a que António Damásio chama de “balizadores somáticos”. Esta espécie de mensagem que nos alerta para o perigo potencial funciona também como despertador para as novas oportunidades e novos desafios. Contudo é o equilíbrio e o controlo dos sentimentos (nos valores e significados que encerram) a chave para o bem estar emocional.

E é este bem estar emocional aliado à capacidade de reconhecer as nossas próprias emoções, a chave de ignição capaz de criar um sentimento positivo, novas atitudes, enfrentar as dificuldades, assumir as responsabilidades para ultrapassar os obstáculos e trabalhar todo o nosso potencial de desenvolvimento.

Mas para isso é necessário definir préviamente:


- O que queremos fazer e onde queremos chegar, tanto do ponto de vista pessoal como profissional, já que ambas as dimensões estão interligadas;

- Qual é a nossa ambição, assumindo a responsabilidade da nossa atitude, dos nossos comportamentos e valores;

- Saber em que situação nos encontramos e o que devemos fazer para avançar na direcção pretendida.


Definir uma boa política de comunicação implica desenhar uma metodologia de trabalho e estabelecer um sistema de comunicação que permita o fluxo de informação em todos os sentidos (ascendente, descendente, horizontal e transversal), e a utilização dos instrumentos adequados a saber:


- Produzir ideias claras, utilizando uma linguagem que facilite a recepção
da mensagem, tanto na forma como no conteúdo;

- Ter a coragem de dizer a verdade, ao mesmo tempo que se mobilizam
as pessoas para as causas;

- Promover uma atitude positiva, virada para o futuro e agregadora de
soluções e não de problemas.


A assimilação, o entendimento e a utilização da informação ao longo dos tempos, foi responsável pelo desenvolvimento humano e permitiu-nos comunicar interna e externamente, multiplicando exponencialmente o conhecimento, a cultura e a relação entre os povos.

Sabendo que, em parte, “os factores determinantes da comunicação residem na sociedade e no mundo que nos rodeia, e não no próprio processo” acreditamos que o processo de comunicação – dizer a verdade - ajudará não só a tornar esse processo mais eficaz, mas sobretudo pode ser o caminho para encontrar novas soluções.


Publicado em Portal Lisboa.net, Rubrica: Mercado e Sociedade, Manuel Almeida, Fevereiro 2009

AS EMPRESAS COMUNICAM?


“Se tiver uma questão importante a comunicar, não tente ser subtil nem esperto. Utilize um malho. Dê-lhe um golpe certeiro. Depois, volte e dê-lhe outro. Em seguida, dê-lhe um terceiro, daqueles valentes”
Winston Churchill (1874-1965), estadista


A comunicação organizacional tem desempenhado um papel fundamental no desenvolvimento das empresas e tem sido a expressão de um novo tipo de gestão nas relações sociais, conciliando elevada autonomia, participação, conhecimento e responsabilidade entre os seus membros.

Ainda que subsistam vários modelos de comunicação organizacional e alguma resistência à forma como os mesmos devem ser implementados existe, contudo, um princípio comum a todos eles e que tem estado no centro das atenções: a necessidade de motivar as pessoas para os resultados e para os objectivos de desenvolvimento das organizações.

Este princípio como afirmou Druker não é apanágio apenas das empresas mas da própria sociedade organizacional em que vivemos e da necessidade de assumirem responsabilidades sociais.

Mas há épocas em que as notícias parecem contrariar estes princípios, pondo em causa todo o processo de comunicação, a sua credibilidade e mesmo a confiança que a sociedade legitimou.

Longe vão os tempos em que os gestores estavam apenas disponíveis para falar uns com os outros, instalados longe dos grandes “palcos de guerra”.Todos perceberam, de forma distinta, que a verdadeira comunicação se faz no terreno, em todos os sentidos, com todos os públicos e tem de ser gerida em antecipação e com agilidade para poder ser competitiva e eficaz num mercado global.

Os tempos de mudança que vivemos são também um momento muito importante de reflexão sobre os “resultados imediatos”, os “prémios extraordinários”, obtidos trimestre a trimestre, das estratégias do curto prazo e da exaltação do poder assente em best-sellers automáticos e discursos assumidos como evangelhos instantâneos do sucesso (agora sabe-se, em muitos casos, construído sobre falsas premissas).

Os negócios de maturação lenta e pequenos nichos de mercado, que no passado não eram tolerados, são agora a prioridade de qualquer empresa, independentemente da sua dimensão e organização.

Também a comunicação massificada e hierarquizada ao nível dos grandes grupos veio a revelar-se, em muitos casos, desajustada.

Esta alteração ocorre porque o mundo dos negócios é dinâmico e não admite eternamente “reengenharias” de processos “criativos”, nem regras definitivas.

Hoje, a prioridade é o futuro em que todos têm que ser ágeis, mas também eticamente responsáveis pelos seus actos. Por isso as qualidades pessoais mais valorizadas assentam cada vez mais na coragem, na ética, na inovação, na sensibilidade, na competência e na capacidade de comunicar não apenas ao nível dos grupos mas individualmente com todos os stakeholders.

A gestão dos processos de negócio, a divulgação de informação relevante e a performance empresarial são cada vez mais um acto de comunicação sujeita à interpretação dos mercados e da sociedade que os legitima ou sanciona e cujas consequências e impacto a todos interessa.

Rubrica:MERCADO E SOCIEDADE,Opinião de Manuel Almeida, publicado in Portal Lisboa.net, Janeiro 2009